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Existe método no estilo Ben Sulayem de manter o poder na FIA 183q2p

Embora errático certas vezes, há método no estilo de Ben Sulayem à frente da FIA. Com eleições se aproximando, as garras se afiam mais 81i1o

15 mai 2025 - 22h57
(atualizado em 16/5/2025 às 07h59)
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Mohammed Ben Sulayem: de um modo não muito estratégico, o emiradense vai em busca de mais um mandato, querendo solapar a oposição
Mohammed Ben Sulayem: de um modo não muito estratégico, o emiradense vai em busca de mais um mandato, querendo solapar a oposição
Foto: FIA

Em pouco mais de 120 anos de anos de história, a FIA teve 12 presidentes. Tivemos figuras únicas, tanto para o bem como para o mal. Porém, facilitado pela hiperconectividade contemporânea, o presente mandatário da entidade acabe por ser aquele que seus movimentos mais acompanhados. E talvez o mais questionado. 3pn1l

Mohammed Ben Sulayem talvez fosse um daqueles casos em que o conjunto dos fatores corresse a seu favor para presidir a FIA: foi competidor (venceu várias vezes o campeonato de rali do Oriente Médio), um árabe com experiencia internacional (estudou nos Estados Unidos e Reino Unido), organizou diversos eventos esportivos (promoveu duas vezes a Copa do Mundo de Rali Cross Country e ajudou a trazer o GP de Abu Dhabi) e teve contato com várias organizações (foi Secretário Geral do Comitê Olimpico dos Emirados Arabes Unidos). Além disso, fazia parte do Conselho Desportivo Mundial da FIA desde 2008 e foi eleito um dos Vice-Presidente da entidade no segundo mandato de Jean Todt.

Quando se anunciou candidato à Presidencia da FIA em 2021, era um o lógico dentro de toda a trajetória de Ben Sulayem na entidade. Mas chamou a atenção o fato de Jean Todt não o ter apoiado. Embora tenha o tido em seu time em seu segundo mandato, Todt não confiava em Ben Sulayem. Não apoiou o concorrente (o britânico Graham Stoker), mas não endossou o emiradense, que fazia uma quase oposição à gestão do francês, dizendo que a "FIA deveria voltar a ser comandada por seus membros" e que "a segurança financeira da FIA estava em risco".

Eleito até com certa facilidade, com mais de 61% dos votos, sua gestão começou imediatamente com o problema do GP de Abu Dhabi de 2021. Embora tenha prometido transparência e celeridade, a situação demorou um pouco e foi concluido que não houve um erro proposital, praticamente jogando Michael Masi aos leões.

A partir daí, ficou claro que Ben Sulayem não seria um daqueles que teria uma gestão sóbria. Logo, iniciou uma solução de dois Diretores de Prova para a F1, além de um Centro de Corridas Remoto na Sede da FIA na Suiça. Não deu certo, voltando a gestão a ficar na mão de uma unica pessoa.

Posteriormente, conduziu uma série de mudanças no WRC que acabaram por matar a categoria (embora uma boa parte da culpa resida nos organizadores). Em paralelo, foi acusado de não dar espaço às mulheres em sua gestão. Além disso, na sua busca por garantir mais dinheiro para a FIA, iniciou uma jogada de "morde-assopra" com a Liberty Media para ver quem mandava na F1.

Ben Sulayem e Domenicali: entre tapas e beijos, a queda de braço segue.
Ben Sulayem e Domenicali: entre tapas e beijos, a queda de braço segue.
Foto: Mohammed Ben Sulayem / X

Aqui, o estilo Ben Sulayem ficou claro. Com a aura de um deputado interiorano e emulado até mesmo um pouco do histrionismo de Jean-Marie Balestre, o emiradense saibia muito bem que a F1 é o trem pagador da FIA. E vendo as receitas da categoria crescendo exponencialmente, queria garantir que sua entidade tivesse uma maior participação nos valores envolvidos. 

Neste ponto, a ultima que se tem neste campo é que as equipes já chegaram a um acordo com a Liberty para o lado comercial no período 2026/2030. Mas a FIA estaria ainda analisando tudo para poder dar sua chancela e garantir mais dinheiro.

A preocupação era válida. Afinal de contas, sob a istração de Jean Todt, a FIA acabou por ter consideraveis prejuízos, a despeito de uma maior profissionalização do seu corpo de funcionários e modernização de processos. No último mandato, Todt teve que lidar com os efeitos da pandemia de COVID-19. E uma das bandeiras da gestão de Ben Sulayem era recuperar as finanças da FIA.

Desta forma, foi fazendo um jogo de paciencia com a Liberty Media. Ora, aceitando montar estruturas usando gente da própria F1 para tomar conta da categoria. Por outro, insistindo em um processo de entrada de novas equipes indo contra a vontade da Liberty e criando uma confusão surreal envolvendo a Andretti e a GM, que só foi resolvido quando a montadora tomou à frente do processo.

Além disso, a gestão Ben Sulayem foi marcada por endurecimento das regras em geral do esporte a motor. Quem se lembra da confusão com as jóias de Lewis Hamilton em 2022? Mais recentemente, a revisão do Anexo B do Código Internacional Desportivo instituido multas pesadissimas a quem tivesse "comportamentos fora dos padrões" ou até mesmo falando palavrões.

Porém, do seu jeito, Ben Sulayem foi consolidando sua gestão, a despeito das cotoveladas: aumentou os programas de fomento aos organismos locais; vem remodelando o formato dos campeonatos de kart, buscando reduzir custos para aumentar a prática; promove o e-sport na estrutura esportiva; iniciou os Jogos Olimpicos da FIA, que poderão ser disputados no Brasil em breve (a próxima edição é em 2026). E colocou as finanças da FIA no azul.

Só que este estilo foi incomodando a muitos. Não foi incomum ver a FIA como uma "porta giratória", com gente entrando e saíndo toda hora. Cumprindo uma de suas promessas de campanha, Ben Sulayem nomeou um CEO para a entidade, prometendo "não se ocupar do dia-a-dia". Natalie Robyn assumiu o posto por 18 meses, saindo para "abraçar novas oportunidades", mas depois confirmando que não concordava com algumas ações.

Posteriormente, tivemos a saída de vários profissionais que cuidavam da F1, incluindo a saída intempestiva de Niels Wittich da Direção de Prova antes mesmo da temporada 2024 terminar. Este ano, houve a saída de Robert Reid, Vice-Presidente Desportivo. Antes disso, David Richards, Presidente da Confederação Britânica e um dos apoiadores iniciais de Ben Sulayem, começou a questionar os métodos do emiradense e a "temer pelo futuro do esporte".

Não é de hoje que a imprensa britânica tem sido crítica ao papel de Ben Sulayem à frente da FIA. E boa parte das informações contra ele vem daí. a pelas mudanças feitas no Comitê de Ética e a última foi o pacote de alterações ao Estatuto da FIA visando a eleição de dezembro. Em princípio, são proposições que buscam tornar a disputa mais clara. Porém, acabam por dar um poder maior à Presidencia para a escolha dos participantes do processo e na composição do Senado da FIA.

Em princípio, desenha-se uma reeleição tranquila para Ben Sulayem. Em tese, ele teria os votos da Ásia/Pacífico, Oriente Médio, Africa e parte da Américas (Brasil no meio). Desde o ano ado, os europeus (especialmente Reino Unido) tem tentado montar uma oposição viável para esta eleição. Nomes como Alexander Wurz e Susie Wolff já foram ventilados. A bola da vez é Carlos Sainz Senior, que já declarou considerar a ideia de sair candidato.

Porém, a coisa não é tão simples. Cabe lembrar que a eleição da FIA é limitada aos membros votantes. Hoje, cerca de 245 entidades de 169 países compoem o quadro da entidade. Uma chapa tem que ter o apoio de pelo menos 6 membros entre Automoveis Clubes, Clubes, Associaçoes e Confederações nos termos do Estatuto da FIA (itens 3.1, 3.2 e 3.3 cumulativamente). Esta chapa é obrigatoriamente formada por: Presidente, Presidente do Senado, Vice-Presidente para Mobilidade e Turismo; Vice-Presidente Desportivo e 7 Vice-Presidentes Esportivos escolhidos entre os candidatos ao Conselho Desportivo Mundial e 2 desses tem que vir da Europa e 1 de America do Sul, America do Norte, Ásia/Pacífico, Oriente Médio e Norte da Africa e Africa.

Para mudar este quadro, a despeito das mudanças que Ben Sulayem está tentando fazer para dificultar o processo, mudando composições de comissões e reduzindo prazos, uma chapa de oposição teria que saber usar muito bem o lado boquirroto e vaidoso de Ben Sulayem junto aos membros. Além de usar a força de atores como a Liberty Media para ajudar no convencimento. Sempre lembrando que pilotos, equipes, categorias e montadoras não participam da votação. Porém podem ajudar a mudar o sentimento do grande público...

Um exemplo deste trabalho foi a eleição de Max Mosley no final de 1991. Jean Marie-Balestre se via como imbatível e o britânico fez um trabalho junto a todos. Houve a ajuda de Bernie Ecclestone no processo, é claro. Mas o francês foi batido de uma forma muito inesperada. Contei essa história aqui.

A eleição é em dezembro, durante a Assembléia Geral da FIA. Até lá, teremos politica, politicagem e politicalha. Se a comunidade automotiva quer mudar algo, tem que arregaçar as mangas agora. Ben Sulayem pode não ser o mais polido e estratégico, mas é ardiloso e conhece o que deve ser feito para conquistar e manter poder. Até agora, os unicos que se voltaram contra de alguma forma efetiva foram os pilotos do WRC ao avacalhar as coletivas oficiais de imprensa contra as draconianas regras instituidas no Anexo B.

Existe método no modo Ben Sulayem. Não é bonito, é atabalhoado mas tem funcionado a seu favor. É hora de agir.

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