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'Se a deportarem, ela morre': a menina mexicana que precisa de tratamento e governo Trump quer expulsar 3x3c31

A menina sofre da síndrome do intestino curto e faz tratamento em Los Angeles, na Califórnia. Sua família teve o visto humanitário revogado e uma eventual deportação resultaria na morte da menina em questão de dias, segundo os médicos. 19481e

3 jun 2025 - 17h12
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Criança sofre da síndrome do intestino curto e depende de um sistema de nutrição parenteral total
Criança sofre da síndrome do intestino curto e depende de um sistema de nutrição parenteral total
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"Em 2023, recebemos um visto humanitário que, até agora, salvou a vida dela." 6t1ng

A mexicana Deysi Vargas fala sobre sua filha Sofia (nome fictício atribuído à menor por seus advogados) para uma dezena de jornalistas convidados para uma entrevista coletiva em Los Angeles, no Estado americano da Califórnia.

A menina tem quatro anos de idade e também está presente. Ela observa a mãe com o canto dos olhos, enquanto brinca com um carrinho na mesa ao lado, repleta de livros infantis.

As covinhas que se formam no seu rosto quando ela sorri e sua vitalidade escondem a grave síndrome de que ela padece. E também desviam a atenção da mochila que ela carrega permanentemente às costas, para mantê-la viva.

A mochila faz parte do tratamento que ela recebe, graças à autorização que permitiu que ela e seus pais ingressassem nos Estados Unidos em julho de 2023, provenientes do México.

Mas, no mês de abril, a família foi notificada de que o governo Donald Trump revogou sua autorização de caráter humanitário e os vistos de trabalho correspondentes.

"Nas cartas que recebemos desde então, eles nos dizem que corremos o risco de sermos deportados e que o melhor para nós é sair do país", declarou Vargas, na entrevista coletiva da última quarta-feira (28/5).

A advogada Gina Amato, do projeto Direitos dos Imigrantes da organização Public Counsel, informou que eles voltaram a solicitar o visto humanitário. Esta informação foi confirmada pelo Departamento de Segurança Nacional (DHS, na sigla em inglês) à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

O DHS destacou que a petição se encontra em análise e nega que este seja um caso "ativo" de deportação.

Toda noite, Sofia a 14 horas conectada ao sistema de alimentação por sonda. E, durante o dia, ela carrega uma mochila com os nutrientes necessários.
Toda noite, Sofia a 14 horas conectada ao sistema de alimentação por sonda. E, durante o dia, ela carrega uma mochila com os nutrientes necessários.
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

'No México, ela não crescia, nem melhorava' 3vt10

Sofia nasceu de parto prematuro em Playa del Carmen, no litoral caribenho do México.

Seus pais haviam se mudado para lá por motivos de trabalho. A mãe é originária de Oaxaca, no sul do país, e seu pai é natural da Colômbia.

Vargas declarou ao jornal Los Angeles Times - um dos primeiros órgãos de imprensa a noticiar o caso - que a menina sofreu complicações de saúde desde cedo. Ela precisou ser submetida a seis cirurgias para aliviar seu bloqueio intestinal.

O diagnóstico foi de síndrome do intestino curto, uma doença grave que leva o corpo a não absorver os nutrientes necessários.

Quando Sofia tinha sete meses de idade, um médico recomendou à família que se mudasse para a Cidade do México. Lá, eles encontrariam o melhor atendimento do país para a condição da menina.

Na capital mexicana, ela permaneceu praticamente confinada no hospital. Sofia sobrevivia, mas seu estado não avançava.

Quando completou dois anos, "minha filha não crescia, nem melhorava", contou Vargas durante a entrevista coletiva.

Foi naquela época que a mãe tomou conhecimento de que, em outros países, pacientes como sua filha levam uma vida normal. E que uma dessas nações eram os Estados Unidos.

Vargas também descobriu que havia uma forma de emigrar legalmente - um programa impulsionado pelo governo americano, então chefiado pelo presidente Joe Biden. Para isso, era preciso solicitar uma audiência por meio do aplicativo CBP One e se apresentar em um determinado cruzamento de fronteira, no dia indicado.

A reunião foi marcada para 31 de julho de 2023. Naquele dia, a família ingressou em território americana no ponto de entrada entre Tijuana, no México, e San Ysidro, na Califórnia. Lá, eles pediram o visto humanitário.

Cerca de 532 mil pessoas se beneficiaram do visto humanitário oferecido pelo ex-presidente americano Joe Biden, incluindo a família Vargas
Cerca de 532 mil pessoas se beneficiaram do visto humanitário oferecido pelo ex-presidente americano Joe Biden, incluindo a família Vargas
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Mais conhecido como "parole", este visto é concedido de forma ilimitada a estrangeiros que, mesmo não cumprindo com as exigências para obter um visto, solicitarem a entrada nos Estados Unidos de forma transitória, por "razões humanitárias urgentes ou benefício público significativo".

Este mecanismo migratório não abre as portas para a cidadania, mas permite morar e trabalhar por dois anos nos Estados Unidos. Ele foi um dos recursos empregados pelo governo Biden para aliviar a pressão na fronteira mexicana.

O "parole" permitiu o ingresso legal nos Estados Unidos de cerca de 532 mil pessoas - entre elas, a família Vargas.

Assim que foi emitido o visto, Sofia foi hospitalizada em um centro de saúde de San Diego, na Califórnia. O tratamento inicial fez com que ela ficasse conectada 24 horas por dia a um sistema de alimentação.

Quando Sofia se fortaleceu, seus médicos a encaminharam ao Hospital Infantil de Los Angeles, que ofereceu o tratamento que, atualmente, ela pode realizar na sua casa, situada em Bakersfield, a 160 km ao norte da cidade.

Agora, a menina a 14 horas por noite conectada a um sistema intravenoso e, quatro vezes por dia, sua mãe istra por uma hora uma solução com outros nutrientes, através de uma sonda conectada ao seu estômago.

Sofia carrega o líquido de aspecto leitoso em uma mochila para onde quer que vá e, quando chega à sua aula na pré-escola, a enfermeira escolar o istra.

"Com a ajuda que recebi nos Estados Unidos, minha filha tem a oportunidade de sair do hospital, conhecer o mundo e viver como uma menina da sua idade", declarou Vargas aos jornalistas.

Mas a família receia que esta oportunidade desapareça e, com ela, a saúde de sua filha. E os médicos indicam que a menina poderá também perder a própria vida.

O governo Donald Trump já notificou a milhares de imigrantes, como a família Vargas, que seu visto humanitário foi revogado
O governo Donald Trump já notificou a milhares de imigrantes, como a família Vargas, que seu visto humanitário foi revogado
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A revogação do visto humanitário 3s6c73

Desde que o republicano Donald Trump tomou posse como presidente americano, com a promessa de realizar "a maior deportação da história dos Estados Unidos", as detenções de imigrantes sem documentos se multiplicaram.

As prisões acontecem até mesmo quando os imigrantes comparecem a audiências na Justiça, como parte do seu processo de regularização.

Ainda assim, o governo revogou a proteção humanitária de milhares de pessoas, que entraram nos Estados Unidos com base em diversos programas do governo Biden.

Paralelamente, na última sexta-feira (30/5), a Suprema Corte americana deu luz verde para que o governo revogue o status legal que protegia imigrantes provenientes da Venezuela, Cuba, Nicarágua e Haiti.

Milhares de pessoas, como a família Vargas, já receberam avisos do governo federal, informando que eles já não detêm status legal e devem abandonar o país por seus próprios meios, para que não sejam perseguidos e deportados.

O aplicativo usado pela família de Sofia para entrar nos Estados Unidos foi transformado em CBP Home - um sistema para ajudar os imigrantes a se "autodeportarem", caso contrário, "o governo federal os encontrará", segundo o alerta do sistema.

"Vocês entraram nos Estados Unidos por período limitado [...] e o DHS, agora, está exercendo sua autoridade para encerrar o seu 'parole'", afirma a notificação recebida pela família de Sofia, à qual a BBC teve o.

"Caso você não deixe os Estados Unidos imediatamente, ficará sujeito a possíveis ações de ordem pública, que resultarão na sua deportação dos EUA, a menos que tenha obtido, de outra forma, uma base legal para permanecer aqui."

"Eventuais benefícios recebidos nos Estados Unidos, relativos à sua liberdade condicional, como a autorização para trabalhar, também serão encerrados. Você estará sujeito a possíveis ações penais, multas civis, sanções e qualquer outra opção legal disponível para o governo federal", alerta a carta com data de 11 de abril.

Como alertou a correspondência, pouco depois de receber a notificação de revogação do visto humanitário, a família Vargas também perdeu sua autorização para trabalhar nos Estados Unidos.

O desespero os levou a entrar em contato com o escritório jurídico sem fins lucrativos Public Counsel e seu projeto Direitos dos Imigrantes. E foi através deles que eles pediram a prorrogação do seu visto humanitário, considerando as condições médicas da filha.

"Nosso objetivo é evitar que Sofia seja deportada e morra", declarou a advogada Gina Amato à BBC News Mundo.

"Agora que o governo revogou seu status legal, ela e seus pais correm o risco de serem detidos pelo Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês) a qualquer momento, neste governo."

"istrar as necessidades médicas de Sofia é um processo muito complexo e, se ela e sua mãe forem simplesmente detidas pelo ICE, a saúde de Sofia ficará em risco."

"Deportar esta família, nestas condições, não é apenas ilegal, mas constitui um fracasso moral que viola os princípios básicos da humanidade e da decência", destacou a advogada na entrevista coletiva da semana ada.

Sofia está sendo tratada pelo Hospital Infantil de Los Angeles, na Califórnia
Sofia está sendo tratada pelo Hospital Infantil de Los Angeles, na Califórnia
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

'Seria fatal em questão de dias' 563z5z

O Hospital Infantil de Los Angeles continua atendendo Sofia regularmente. A instituição rejeitou o pedido de comentários da BBC News Mundo sobre o caso.

O jornal Los Angeles Times teve o a uma carta solicitada pela família ao médico que acompanha a menina a cada seis semanas, John Arsenault.

Ele declarou que "os pacientes que recebem Nutrição Parenteral Total em casa não têm autorização para sair do país, pois a infraestrutura para fornecer o alimento ou fazer intervenções imediatas em caso de problemas com o o depende de recursos sanitários existentes nos Estados Unidos e não pode ser transferida para além das fronteiras."

Ele destacou que, no caso de Sofia, a interrupção desta alimentação "seria fatal em questão de dias".

O caso da menina atraiu as manchetes e a atenção da imprensa. E os dramas migratórios vêm se acumulando dia após dia.

Na quinta-feira ada (29/5), 38 congressistas democratas am uma carta dirigida à secretária de Segurança Nacional, Kristi Noem, pedindo ao governo americano que reconsidere o status migratório da família Vargas.

"Acreditamos que a situação desta família se enquadra claramente na necessidade de ajuda humanitária", defende a missiva. "É nosso dever proteger os enfermos, vulneráveis e indefesos."

A Secretaria de Relações Exteriores (SRE) do México também se pronunciou, destacando que a família de Sofia "não desrespeitou as condições de sua permanência".

Os advogados "estão em contato com o consulado geral do México em Los Angeles e o consulado mexicano em Fresno [também na Califórnia], para interceder ante os legisladores estaduais e federais, a fim de evitar a deportação", informou a SRE na quinta-feira (29/5).

Em declaração encaminhada à BBC, o Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos (DHS) afirma que "qualquer relato de que a família se encontra em [processo de] deportação ativa é falso".

O órgão informou que "esta família solicitou visto humanitário ao Serviço de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos (USCIS, na sigla em inglês) no dia 14 de maio de 2025 e a petição ainda está em análise".

Enquanto a solicitação é avaliada, a mãe de Sofia deixa um alerta.

"Se nos deportarem e retirarem da minha filha o o ao seu sistema especializado, ela morre."

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