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Jeff Tweedy celebra o acaso e o improviso como essência da música mq25

Com show arrasador no C6 Fest na noite de ontem, 25, no Ibirapuera, Jeff Tweedy fala sobre a volta ao Brasil, o carinho do público e os caminhos criativos que ainda movem a banda após 30 anos 3d4650

26 mai 2025 - 18h59
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Wilco no C6 Fest 2025
Wilco no C6 Fest 2025
Foto: FilmArt Media Content / Rolling Stone Brasil

"Por que a gente não fica logo aqui?" 6l3q5s

Essa pergunta, feita por Jeff Tweedy ao longo do show do Wilco no C6 Fest 2025, resume bem o sentimento de quem estava ali: um público tomado pela emoção ao reencontrar uma das bandas mais cultuadas de Chicago, cuja última visita ao Brasil havia sido há quase uma década.

Na noite de ontem, domingo 25, o grupo americano subiu ao palco da Tenda MetLife — o secundário do festival, mas que ficou pequeno diante da quantidade de fãs e curiosos que se aglomeravam, saudosos e atentos. A escolha do espaço parece ter subestimado o poder de atração da banda, como já havia acontecido no ano anterior com o Pavement e, nesta mesma edição, com o Gossip de Beth Ditto na noite anterior.

A apresentação fez parte da edição 2025 do C6 Fest, que tomou o Parque Ibirapuera em São Paulo entre os dias 22 e 25 de maio, coincidindo com o fim de semana da Virada Cultural da cidade (mas sem integrar sua programação). Ao longo de quatro dias, o evento contrastou a introspecção dos shows no Auditório com a vibração urbana ao ar livre em um dos maiores cartões-postais da capital paulista. Apesar de não ter encerrado o festival — esse posto ficou com Nile Rodgers & Chic —, o Wilco foi, sem dúvida, um dos shows mais celebrados da programação.

Antes do reencontro com o público, a banda conversou com jornalistas na sexta-feira, 23, durante a agem de som. A entrevista coletiva reuniu todos os integrantes da formação atual: Jeff Tweedy (vocais e violão), Nels Cline (guitarra), Mikael Jorgensen (piano e teclado), Glenn Kotche (bateria), Pat Sansone (violão) e John Stirratt (baixo). Em tom descontraído e receptivo, eles falaram sobre suas conexões com a música brasileira, literatura, improviso criativo e os rumos futuros da banda que, desde 1994, já soma 13 discos de estúdio e um legado inconfundível.

"Tem algo no Brasil que conecta imediatamente. Como músico, é uma sensação de pertencimento que não sei explicar", comentou Tweedy. "A gente sente essa energia até quando toca músicas que ninguém conhece direito".

Jeff Tweedy -
Jeff Tweedy -
Foto: FilmArt Media Content / Rolling Stone Brasil

Na coletiva, quando perguntado sobre o que ainda lhe parece absurdo ou inspirador na indústria da música, Jeff Tweedy foi direto: "A música em si é inspiradora. Sempre tem gente fazendo algo desafiador, emocionante, com uma expressão individual verdadeira. Quando você faz isso direito, ninguém soa como ninguém". Para ele, essa autenticidade é o que continua mantendo vivo o encantamento com a arte de compor e tocar. "Isso ainda me inspira".

O assunto logo evoluiu para um dos temas mais discutidos no meio artístico atualmente: a inteligência artificial. Ao ser questionado sobre o uso da IA na música, Tweedy respondeu com ironia e firmeza: "Desafio a IA a se ferrar no palco do jeito que seis seres humanos conseguem se ferrar juntos. Isso ainda está a uns mil anos de distância de conseguir fazer o que o Wilco faz". A declaração arrancou risos e aplausos dos presentes, mas também pontuou um posicionamento claro: o valor da falha humana, da organicidade e do improviso que ainda é insubstituível.

Sobre os riscos criativos da banda ao longo dos anos, Tweedy mencionou a decisão — hoje comum, mas à época inovadora — de liberar os discos do Wilco para streaming antes do lançamento oficial.

Acreditávamos que, mesmo que as pessoas ouvissem de graça, elas iriam ouvir. E que isso sustentaria o que sempre nos sustentou: os shows ao vivo".

A escolha, que poderia ter comprometido financeiramente a banda, acabou se mostrando acertada. "Nós sobrevivemos. Isso provou nosso ponto".

Falando de arte e emoção, os membros da banda refletiram também sobre sua conexão com a música brasileira. Sansone respondeu:

Algumas das minhas músicas favoritas de todos os tempos são do Brasil. Eu não entendo uma palavra das letras, mas elas me enchem de sentimento".

Para ele, esse ciclo de inspiração entre culturas é algo mágico.

Saber que, talvez, as músicas que eu faço toquem alguém aqui da mesma forma que essas canções brasileiras me tocam... isso é lindo. Existe uma mágica indescritível nisso".

Tweedy mantém um blog chamado Starship Casual, onde responde perguntas de fãs, faz listas, lança músicas inéditas e covers, entre outros — e foi ali que comentou estar lendo sobre a Guerra do Peloponeso, algo bem específico. Na coletiva, a curiosidade virou pergunta, e a banda aproveitou para compartilhar outras leituras atuais. "Ainda estou mergulhado na Guerra do Peloponeso, mas comecei outro livro chamado To The Finland Station".

John Stirratt por sua vez respondeu: "Estou lendo algumas biografias. A do Peter Wolf, do J. Geils Band que nos compartilhamos entre a banda na última turnê. Ele é um personagem, tem uma energia meio Zelig". Ele ainda mencionou estar lendo I Regret Almost Everything, sobre o restaurateur nova-iorquino Keith McNally, um retrato envolvente da cidade entre os anos 70 e 80. Outro nome que surgiu, desta vez leitura de Glenn Kotche, foi também a biografia do Peter Wolf o do norueguês Karl Ove Knausgård. Pat Sansone mencionou Devotional Cinema, de Nathaniel Dorsky — uma obra essencial para quem gosta de fotografia e cinema. "É lindo, recomendo a todos os fotógrafos que conheço". Mikael Jorgensen, está lendo A Short History of Nearly Everything, de Bill Bryson, que combina ciência, história e humor em uma narrativa ível e profunda, algo que compartilha com o filho, e por fim, Nels Cline também comentou a leitura da biografia de Peter Wolff (houve risos de todos os presentes) mas também a leitura de The Notebooks of Sonny Rollins, um compilado dos escritos do lendário saxofonista, recheado de reflexões filosóficas, musicais e políticas. "É fascinante. É uma experiência de consciência". Por fim, revelou seu próximo livro: a biografia de Candy Darling, ícone trans da cena nova-iorquina ligada a Andy Warhol

Com mais de 30 anos de carreira, o Wilco segue trilhando caminhos que unem o rock alternativo, o folk e o country, sempre filtrados por uma estética sonora que oscila entre a delicadeza lírica e a experimentação instrumental. Essa essência se refletiu no show de ontem, que teve 1h30 de duração e priorizou faixas de sua fase mais clássica, com destaque para o repertório dos álbuns Yankee Hotel Foxtrot (2002), A Ghost Is Born (2004) e Sky Blue Sky (2007).

A banda entregou uma performance poderosa e comovente. Suas composições — ora melancólicas, ora radiantes — misturam sentimentos profundos com uma cacofonia precisa de sons produzidos por cada integrante, sem que uma coisa atrapalhe a outra. A plateia, que cantava até os solos de guitarra, se entregou a momentos de verdadeira comunhão com o grupo.

Quem roubou a cena foi o guitarrista Nels Cline. Em vez de buscar o virtuosismo óbvio, ele preferiu costurar emoções com seu instrumento, entregando explosões instrumentais em faixas como "Via Chicago" e longas digressões hipnóticas, como em "Impossible ", onde parecia entrar em transe.

Nels Cline na guitarra e Mikael Jorgensen nos teclados -
Nels Cline na guitarra e Mikael Jorgensen nos teclados -
Foto: FilmArt Media Content / Rolling Stone Brasil

Entre uma música e outra (nos poucos momentos em que elas não eram emendadas), Tweedy interagia com o público com o mesmo humor que mostrou na coletiva. Em "Hummingbird", após uma das maiores reações da noite, o vocalista se perguntou em voz alta:

Por que não ficamos aqui? Por que vamos embora?".

Essa foi a terceira vez que o Wilco se apresentou no Brasil — e fica difícil entender por que não vem mais. O setlist, embora matador, deixou algumas favoritas fora, uma tarefa compreensível dado o vasto repertório. Mas o que foi tocado bastou para aquecer corações, provocar suspiros e deixar a certeza: um show do Wilco é uma celebração, uma entrega, uma conversa direta com quem escuta.

Torcemos para que a volta demore menos.

Confira o setlist completo:

1. Company in My Back

2. Evicted

3. Handshake Drugs

4. At Least That's What You Said

5. I Am Trying to Break Your Heart

6. If I Ever Was a Child

7. Pot Kettle Black

8. Hummingbird

9. Bird Without a Tail / Base of My Skull

10. Either Way

11. Impossible

12. Box Full of Letters

13. Annihilation

14. Via Chicago

15. Jesus, Etc.

16. Heavy Metal Drummer

17. I'm the Man Who Loves You

18. Spiders (Kidsmoke)

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