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Trabalhar em navio: “Um dos piores subempregos”, diz autor de livro sobre trabalho a bordo 5q2v6c

Cria do Jardim Peri, zona norte de São Paulo, escreve livro-reportagem denunciando experiências traumáticas em alto mar. sf2e

27 jan 2025 - 14h40
(atualizado em 24/4/2025 às 10h18)
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Resumo
Autor trabalhou por oito anos em três grandes empresas de cruzeiros marítimos. Conheceu o mundo, mas nada compensou as dificuldades. Com seu livro-reportagem, pretende alertar sobre um trabalho que parece glamuroso.
Jornalista Igor Sanches em sua quebrada, o Jardim Peri, zona norte de São Paulo. Trabalho em navio não compensa.
Jornalista Igor Sanches em sua quebrada, o Jardim Peri, zona norte de São Paulo. Trabalho em navio não compensa.
Foto: Arquivo pessoal

Após anos trabalhando em navios, Sanches expõe abusos em livro-reportagem: Inferno em Alto Mar – Desventuras do Trabalho a Bordo. 61268

Existe um certo glamour em trabalhar em navios: conhecer países, culturas, pessoas, falar outras línguas. Mas para o jornalista Igor Sanches, cria do Jardim Peri, zona norte de São Paulo, “no fim do dia você vai estar bebendo água mineral escondido na copa, morrendo de medo de ser pego e perder o emprego por isso”.

Sanches trabalhou por oito anos em navios, rodou o mundo, e a decepção foi tão grande que ele resolveu escrever um livro-reportagem cujo título não deixa dúvidas sobre sua experiência: Inferno em Alto Mar – Desventuras do Trabalho a Bordo de Navios de Cruzeiro.

“Quando atracava, muitas vezes eu nem saía do porto, porque aproveitava a internet para baixar alguma série e fazer ligação com a minha avó ou minha mãe” – Igor Sanches

Trajetória do autor a bordo de navios  5w371x

Sanches começou como camareiro em 2016 e diz que, convertido em reais, o valor do salário era parecido com um salário-mínimo. “O trabalho era muito desgraçado”, diz, contando que varria 14 escadas por dia, entre outras atividades.

O jornalista trabalhou em três grandes empresas, conheceu todos os continentes, ou por vários países, mas quando o navio atracava, “muitas vezes eu saía para comer um hambúrguer do McDonald’s no desespero de algo com mais qualidade que a comida do navio”.

Igor Sanches está ao fundo trabalhando como barboy, responsável pelo serviço pesado dos bares do navio.
Igor Sanches está ao fundo trabalhando como barboy, responsável pelo serviço pesado dos bares do navio.
Foto: Arquivo pessoal

Dois contratos rompidos, um para escrever o livro 3k202p

Alguns fatores levaram Igor Sanches a trabalhar em navios. Ficou sem emprego após concluir o curso de Jornalismo, terminou um relacionamento afetivo e o cunhado falou da possibilidade de “viajar o mundo e ganhar em dólar”.

Ele sabia inglês, que a mãe, com muito esforço, pagou. Decidiu encarar o trabalho. Na primeira viagem, foi para a Finlândia. A empolgação “dura muito pouco até você ser consumido pela carga horária de trabalho demasiado longa, chefes abusivos, comida ruim que viram uma rotina ruim”.

Dormitório dividido com vários funcionários, em 2022, em plena pandemia de covid. Rapaz na cama está infectado.
Dormitório dividido com vários funcionários, em 2022, em plena pandemia de covid. Rapaz na cama está infectado.
Foto: Arquivo pessoal

“Eu sinceramente espero que esse livro abra os olhos das pessoas para esse universo tão diferente da vida cotidiana” – Igor Sanches

O ritmo de trabalho, sem folgas, é frenético, de sete a nove meses embarcado a cada contrato. Fazendo trabalho de "barboy" – jogar lixo, cortar “quilos e mais quilos de frutas” – ele era chamado para reuniões com meninas. Sentia-se constrangido, achava que era algum tipo de ironia pelo fato de ser gay.

“Quando eu tinha sido promovido a garçom de bar, um evento me fez repensar a vida e escrever o livro. Não vou dar spoilers, mas foi um momento tenso que teve racismo escancarado, xenofobia e abuso de poder. Mas também envolve muita luta e resposta a toda essa violência”.

Cuidado com recrutamentos e cursos        102s6u

Não é difícil conseguir emprego em navios. Em geral, quem recruta são agências. Pedem atestado médico, aporte, conhecimento da língua inglesa, e dois cursos básicos de salvaguarda, realizados em poucos dias.

Livro-reportagem pretende ser um alerta às promessas de emprego bom, remunerado em dólar.
Livro-reportagem pretende ser um alerta às promessas de emprego bom, remunerado em dólar.
Foto: Divulgação

“Se você não tem um foco, um alvo ou experiência e deixa isso claro para as recrutadoras, eles vão te jogar em qualquer cargo. Normalmente, os piores, para lavar pratos ou limpar áreas públicas de hóspedes ou tripulantes”, alerta o jornalista.

Segundo ele, o desconhecimento das reais condições de trabalho sustenta “picaretas vendendo curso sobre como trabalhar em navios de cruzeiro se dando bem e ganhando em dólares. Eles vomitam meias verdades”.

Cria do Jardim Peri, zona norte de São Paulo 676y4r

Com 31 anos, Igor Sanches nasceu e cresceu na zona norte da capital paulista, entre Vila Nova Cachoeirinha e Jardim Peri, onde ou a maior parte da vida. Criado pela mãe, diarista, o pai, separado, sempre foi presente.

“O bairro era e ainda é terrível para transporte público. Hoje, um pouco menos pior”. Sanches viveu sob o risco de um muro desabar sobre casa. Estudou em escolas públicas, entrou em Jornalismo com bolsa e trabalhou para pagar a faculdade.

Igor Sanches na infância, no quinta onde foi criado. Risco do muro cair fez a família mudar de casa.
Igor Sanches na infância, no quinta onde foi criado. Risco do muro cair fez a família mudar de casa.
Foto: Arquivo pessoal

ou por estágios, mas o último acabou justamente quando Sanches terminou a graduação. Seu trabalho de conclusão de curso é um livro de perfis de pessoas transexuais.

Antes de concluir, a pergunta inevitável é: voltaria a trabalhar em navios? “Só volto a bordo se eu realmente não tiver opção, e voltaria logo para seguir com meus planos em terra. É um ambiente muito hostil”.

Fonte: Visão do Corre
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