Por que influenciadores de saúde bebem leite e doses de mel na Casa Branca? n32r
Entusiastas e podcasters do MAGA celebraram o lançamento de um relatório da comissão 'Make America Healthy Again' de Trump 393x4c
Influenciadores de saúde se reuniram na Casa Branca na semana ada para um evento de imprensa celebrando o lançamento de um relatório da comissão "Make America Healthy Again" ("MAHA"), criada por Donald Trump e presidida pelo Secretário de Saúde Robert F. Kennedy Jr. 2t5u6l
O documento de 72 páginas, intitulado "The MAHA Report: Make Our Children Healthy Again" ("O Relatório MAHA: Tornando Nossas Crianças Saudáveis Novamente", na tradução livre), afirma que "as crianças de hoje são a geração mais doente da história estadunidense em termos de doenças crônicas" e apresenta uma análise das causas dessas doenças crônicas na infância. Embora partes do relatório responsabilizem a má nutrição, os produtos químicos ambientais e a medicalização excessiva, outras se contrapõem ao consenso científico.
Isso, sem surpresa, não afetou o clima na Casa Branca, que se tornou um ponto de encontro para propagandistas pró-Trump e influenciadores do movimento MAGA. Em um vídeo nas redes sociais, Paul Saladino, um influenciador com quase três milhões de seguidores que defende uma dieta baseada em carne e é conhecido como "Carnivore MD", filmou-se em uma sala cheia de podcasters, gabando-se de que, além de entrevistar Kennedy, também levou seu próprio almoço de leite cru e carne crua.
"Estou em D.C. para o grande anúncio do relatório MAHA sobre doenças crônicas", disse Saladino, erguendo um frasco. "Aqui dentro tenho um smoothie de leite cru, mirtilos, mel e, na verdade, carne crua", acrescentou. "Estamos retomando a América, pessoal."
Em outro post no Instagram, compartilhado pela Lineage Provisions, uma empresa de suplementos e snacks de carne cofundada por Saladino, aparece um vídeo dele tomando doses de leite cru e mel com o podcaster Max Lugavere e Brigham Buhler, durante o qual Lugavere ri: "Estamos prestes a irritar muitos cientistas de alimentos."
Um surto de evangelismo pró-leite cru entre conservadores, figuras antiestablishment como Kennedy, além de esposas "tradwives" e homesteaders nas redes sociais, levou à mais recente batalha anti-ciência do movimento MAGA. Embora haja poucas evidências sobre benefícios à saúde ao consumir leite não pasteurizado, os riscos são bem documentados. Quem bebe leite cru está exposto a contrair o vírus da gripe aviária H5N1, além de infecções bacterianas como E. coli, Salmonella e Campylobacter.
Entre 2009 e 2014, leite e queijo crus — consumidos por apenas 3,2% e 1,6% da população dos EUA, respectivamente — foram responsáveis por 96% das doenças decorrentes da contaminação de laticínios, segundo um estudo de 2017 na Emerging Infectious Diseases, revista científica revisada por pares e publicada pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Antes da introdução da pasteurização comercial nas áreas urbanas no início do século XX, doenças transmitidas pelo leite, como difteria, tuberculose e a chamada "diarreia de verão", representavam uma séria ameaça à saúde pública.
E, para deixar claro, a Food and Drug istration (FDA) explicou em um comunicado de março de 2024: "o leite cru pode conter uma variedade de patógenos causadores de doenças, como demonstrado por inúmeros estudos científicos."
No entanto, a popularidade crescente de produtos lácteos crus coincide com a desconfiança cada vez maior no sistema de saúde dos EUA. "As pessoas não confiam no sistema de saúde [americano] — e com razão", disse Céline Gounder, especialista em doenças infecciosas e epidemiologista da Universidade de Nova York e do Bellevue Hospital (além de editora de saúde pública da KFF Health News), anteriormente à Rolling Stone.
"O foco é, antes de tudo, no lucro, não no cuidado com os pacientes ou na promoção de uma população saudável."
Quando as pessoas se sentem mal atendidas pelo sistema de saúde, segundo Gounder, elas buscam alternativas, como consumir leite cru, que lhes dão uma sensação de controle.
Agora, claro, a principal agência de saúde dos EUA — o Departamento de Saúde e Serviços Humanos — e órgãos vitais como a FDA e o CDC estão sendo supervisionados por Kennedy e outros aliados do movimento MAHA.
Embora o relatório da comissão MAHA tenha buscado abordar muitas das preocupações de saúde infantil nos EUA — reconhecendo que má alimentação, estilo de vida inadequado e exposição a produtos químicos ambientais são prejudiciais —, ele não trata das desigualdades socioeconômicas que levam às doenças crônicas.
"Eles reconhecem que os alimentos ultraprocessados são mais baratos, mas não reconhecem que o aumento da pobreza e a desigualdade de riqueza estão levando mais pessoas, e crianças, a depender desses alimentos mais baratos", disse Carmen Marsit, professora de saúde ambiental da Universidade Emory, à NPR.
O relatório MAHA também questiona o atual calendário de vacinação, ecoando as críticas de Kennedy, um conhecido teórico da conspiração antivacina, que recentemente itiu não se considerar qualificado para dar conselhos médicos.
Infelizmente, o homem que está promovendo a medicina alternativa em detrimento da vacinação — em meio a um surto de sarampo — e que recomenda escolhas alimentares que provavelmente levarão as pessoas ao banheiro antes de trazerem qualquer benefício real à saúde, é agora o principal responsável pela saúde pública nos Estados Unidos.
+++LEIA MAIS: Bono apoia Bruce Springsteen em polêmica com Trump: 'Só existe um chefe na América'
+++LEIA MAIS: Wes Anderson questiona lógica das tarifas de Trump para filmes: 'Não é assim que funciona'
+++LEIA MAIS: Trump posta vídeo de si atingindo Bruce Springsteen com bola de golfe
+++LEIA MAIS: Neil Young apoia Taylor Swift e Bruce Springsteen em embate com Trump: 'Você trabalha para nós'
+++LEIA MAIS: Tom Morello apoia Bruce Springsteen e manda Donald Trump se f*