Livros remendados, obras de amigos e uma caixa de 'intocáveis': Pedro Bandeira abre sua biblioteca 5n2q5a
Visitamos o refúgio rural de um dos escritores mais queridos dos leitores brasileiros, autor de clássicos juvenis como 'A Droga da Obediência'; veja vídeo com sua coleção de livros e confira suas leituras essenciais 4d3k1n
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É uma estrada de terra que nos leva até a biblioteca pessoal de Pedro Bandeira. O autor de clássicos infantojuvenis como A Droga da Obediência ainda tem um apartamento em São Paulo, mas hoje, aos 83 anos, a bastante tempo em uma casa em meio à natureza, em São Roque, onde guarda a maior parte de sua coleção de livros.
"Um homem que chegou à minha idade, se eu ainda fosse o comprador de livros que eu fui, estaria roubado. Teria que morar em uma mansão para caber tudo. Pelo contrário, eu comecei a diminuir a biblioteca e fazer doações", explica Bandeira.
O escritor manteve especialmente clássicos nacionais. De amigos como Rubem Fonseca e Luis Fernando Verissimo a coleções completas de Jorge Amado e Machado de Assis. "Dom Casmurro certamente foi o melhor livro escrito no Brasil", crava Bandeira. "Machado fazia o leitor pensar, duvidar do que era verdade ou não."
Influência de Lobato 1t5x1d
Entre as raridades do acervo de Bandeira, está uma coleção completa das obras de Monteiro Lobato, publicadas pela editora Brasiliense. "Está um trapo. Não é que eu tratasse mal o livro, mas o tempo come o papel", brinca Pedro. As obras, muitas remendadas com fita adesiva, têm mais de 70 anos desde a publicação.
Reinações de Narizinho, datada de 1953, por exemplo, guarda uma dedicatória especial da mãe de Bandeira. "Mas outros livros, como Caçadas de Pedrinho, eu não daria para uma criança ler hoje em dia. Ele detalha os personagens matando uma onça. É algo horrível, mas à época parecia normal", ele ressalta.
Lobato foi a maior inspiração de Bandeira quando o escritor decidiu começar a escrever obras infantis. "Tentei imitá-lo. Ele fez uma menina num sítio. Eu era mais urbano, então escrevi sobre um garoto na cidade", afirma o autor sobre sua primeira publicação, O Dinossauro Que Fazia Au-au, de 1983.
Para Bandeira, algumas obras de Lobato ainda sobrevivem aos dias de hoje, por mais que uma exista uma revisão crítica sobre o autor. "Deixar de ler Lobato? Então vamos fazer o mesmo com Shakespeare porque ele escreveu um livro antissemita [Bandeira refere-se a críticas sobre O Mercador de Veneza]. Ou então, vamos parar de ler Platão, já que suas obras falavam de forma natural sobre escravidão."
Parceria com Ziraldo 4k3tk
Caixas com o aviso 'intocáveis' em letras grandes guardam as primeiras edições de cada livro de Bandeira. "É uma forma de preservar minha história", afirma. Uma outra estante, no entanto, armazena diversas reimpressões do autor.
Um dos títulos mais afetivos é Papo de Sapato, escrito por Bandeira e ilustrado por Ziraldo. "A gente era muito chegado. E ele teve o AVC bem na época da pandemia, então não podia visitá-lo. Foi muito triste." O criador de O Menino Maluquinho morreu em abril de 2024 aos 91 anos. "Eu chorei muito a partida dele."
Um pé no mundo real 1n5637
No profissional, um autor forjado no mundo da fantasia das obras infantojuvenis. No pessoal, um leitor voraz de obras de não ficção. Formado em ciências sociais, Bandeira tem uma estante de sua biblioteca apenas dedicada ao segmento. Em especial, títulos sobre a história do Brasil.
Laurentino Gomes, autor de obras como Escravidão (em três volumes), está entre os favoritos de Bandeira na seção. "Muitos historiadores não gostam, por ele ser formado em jornalismo. Mas a verdade é que ele comunica muito bem, tem a linguagem certa. Todo mundo entende."
Outro destaque é a carioca Mary Del Priore. "Ela é minha campeã, viu? Maravilhosa. A coleção dela em três partes, sobre colônia, império e República é impagável. Li com muito prazer", diz. Quer ver todas as indicações literárias de Bandeira? Confira aqui 10 títulos pinçados pelo autor em sua biblioteca.
