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Geyson Luiz, de Maria e o Cangaço, já morou nas ruas: 'Espelho do Brasil que engole sonhos ' q3z3s

Em entrevista à CARAS Brasil, o ator Geyson Luiz, da séria Maria e o Cangaço com Isis Valverde, conta detalhes sobre sua infância e fala do amor pelas artes cênicas 2i3i48

15 mai 2025 - 07h00
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O ator pernambucano Geyson Luiz
O ator pernambucano Geyson Luiz
Foto: Divulgação/Diogenes Mendonça / Caras Brasil

Estrelada por Isis Valverde (38) no papel de Maria Bonita e Júlio Andrade (48) como Lampião, a série Maria e o Cangaço chegou ao Disney+ no início de abril e está fazendo o maior sucesso na plataforma. A produção inspirada no livro Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço também conta com o ator pernambucano Geyson Luiz (27), que dá vida ao cangaceiro Zé Bispo, personagem inspirado na figura real de Zé Baiano — um dos mais sanguinários integrantes do bando de Lampião que se destacava não apenas pela crueldade, mas por ser o membro mais abastado do grupo. Em entrevista à CARAS Brasil, o artista fala do amor pelas artes cênicas e revela que já morou nas ruas. e4n6d

Geyson conta como surgiu o convite para a série. "Foi na seleção de testes e indicação da Fátima Toledo que surgiu o convite para o projeto que trazia uma tremenda responsabilidade para interpretar um antagonista em que sua referência existiu numa época, como também habita nas vísceras de nossa sociedade", revela o ator, acrescentando o que mais o encantou neste trabalho. "Foi poder contar essa história pela perspectiva feminina e revelar o peso do mundo que carrega no olhar de uma mulher - uma dor ancestral que ecoa nas tragédias ainda vivas em nossa sociedade. Através da interpretação de Isis como Maria Bonita, somos arrastados para o coração da resistência feminina no cangaço. O público não apenas assiste, mas sente na pele o drama da mulher espremida entre a violência do mundo e o ódio que fermenta entre os homens", completa.

Segundo o pernambucano, o trabalho de preparação de seu personagem em Maria e o Cangaço começou com a "intensa curiosidade de conhecer o indivíduo que influenciou sua criação". "Antes da preparação intensiva com Fátima Toledo - a quem devo minha gratidão pela parceria na construção da personagem -, houve tanto o trabalho físico, baseado no método dela de bioenergética, quanto o trabalho teórico, em colaboração com o historiador Jairo Luiz de Oliveira", fala.

O artista destaca que também mergulhou no estudo sobre Zé Baiano por meio da leitura dos livros Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço, da escritora Adriana Negreiros; e Zé Baiano, do escritor Robério Santos. "Esta última serviu como ponto de partida para minha investigação sobre o personagem. Na criação, busquei a dialética como base de todo o processo até o último dia de gravação, abordando temas que problematizam a existência da personagem e expõem as feridas ainda perpetuadas em nossa sociedade. Foi essencial debater questões como a resistência à violência, o discurso de ódio, a submissão do indivíduo em nome da honra, o patriarcado e o luto existencial", explica.

"O homem é o maior inimigo de si mesmo. O grande mal da humanidade é sua própria ignorância, e o poder de poucos resulta na manipulação de pessoas mal informadas. Como artista, tenho o dever social e político de expor, além das vísceras, o reflexo da própria existência humana e de suas ações enquanto linguagem artística. Que esse território seja o da contestação, da sensibilidade, da dialética, da inovação e da disrupção — um espaço criativo em nossa busca por viver, sonhar e reconhecer o valor de nossa memória", emenda.

Isis Valverde e Geyson Luiz em Maria e O Cangaço -
Isis Valverde e Geyson Luiz em Maria e O Cangaço -
Foto: Reprodução/Instagram / Caras Brasil

FUGIU DE CASA E MOROU NAS RUAS

Geyson Luiz, que tem mais de 20 anos de carreira, começou a estudar interpretação na escola, em sua cidade natal, Limoeiro, zona da mata pernambucana, quando tinha apenas 7 anos. "Minha infância foi marcada por tradições culturais e folguedos populares, que uniam as comunidades da região em atos de resistência e fé. A influência da cultura popular está presente em toda a minha trajetória como artista. Por exemplo, vestia-me como um caboclo de lança, figura emblemática do Maracatu Rural: usava um galho de arruda atrás da orelha e um cravo ou rosa branca na boca para me proteger, para manter o corpo fechado. Eu era um brincante intenso do Cavalo Marinho, ogã, dançava e cantava no terreiro que ficava no alto da serra", relembra.

"Apesar da efervescência cultural da minha família— religião, tradições, festejos — vivíamos na pobreza. Faltava comida, e, por vezes, a escola, por mais precária que fosse, era não só fonte de conhecimento, mas também de alimento para mim e meus dois irmãos. Muitas vezes, nos verões secos, faltava água, e tínhamos que subir e descer a serra em busca de água. Para um pirralho como eu era, não havia perspectiva de futuro", continua.

Para o pernambucano, o teatro foi um "divisor de águas doces". "No pátio da cidade, onde aconteciam os eventos, apareceu uma trupe circense de palhaços. Aquilo me encantou de forma tão intensa quecomecei a acreditar num caminho que eu mesmo poderia traçar. Aos sete anos, comecei a fazer teatro na escola, declamando cordéis e dançando balé. Foi então que o grupo teatral da cidade, "Cia. Lionarte", me chamou para participar de seus espetáculos. Naquela época, o ator limoeirense Irandhir Santos fez sua primeira aparição na televisão e tornou-se um fenômeno em nossa cidade. Ele ou a ser minha principal referência profissional e uma grande inspiração — um jovem que conseguiu sair do interior e construir uma carreira artística irável", conta.

Aos 13 anos, Geyson fugiu de casa para se dedicar à carreira artística e chegou a morar nas ruas de Minas Gerais. "Era um tempo de chão rachado. As condições do ado não eram apenas precárias — eram um espelho do Brasil que engole sonhos antes que eles aprendam a andar. Não havia futuro, só o presente estreito de quem mal podia respirar. Como ousar imaginar que um dia eu seria artista? Que essa palavra, pesada como ouro e frágil como cinza, me pertenceria?", confessa.

"As noites em claro, o suor lavando a maquiagem, os olhos ardendo de cansaço e êxtase — tudo isso era o preço e a recompensa. A poesia não era um escape: era o chão que eu pisava para não afundar. A maquiagem, o figurino, o palco eram trincheiras. Cada verso era um sopro contra o vento que diz 'desiste'. Minha família se sente orgulhosa por eu ter mostrado que o amor pela arte — e nunca deixar de acreditar na poesia — era a razão, a fuga e a libertação. As noites em claro, o suor escorrendo sob a maquiagem, os olhos brilhando... Tudo isso me guiou pelos caminhos que trilhei e me permitiu honrar minhas raízes. Hoje, sou a razão da luta de minha família", acrescenta.

Geyson Luiz foi convidado para alegrar o público no circo do ator Marcos Frota (68) e no Le Cirqua; porém, afirma que ainda foi uma época muito difícil em sua vida. "Mas foi aí que eu tive um intenso contato com a arte de rua. Dos artistas que sobrevivem fazendo arte nos sinais de trânsito, esse contato me fez questionar o porquê de fazer arte. Então, a partir das manifestações culturais que vivenciei onde nasci, essas experiências se tornaram minha referência, inspiração e memória afetiva para me tornar palhaço", pontua.

"Fiz algumas participações como palhaço no circo do Marcos Frota e no Lê Cirque, além de outros picadeiros, essa experiência foi o intuito de juntar dinheiro para retornar ao Nordeste.O circo me ensinou a coragem que faltava: a de enxergar o erro não como queda, mas como convite para questionar, aprender e refazer os caminhos sem medo. Com o coração aberto, absorvendo o que o mundo devolve aos meus sentimentos, e com a generosidade de quem se permite conhecer o outro de verdade, olhando nos olhos e vendo histórias ali. O circo me deu a coragem de falhar, de chorar no picadeiro e ouvir meu pranto virar riso. De entender que o erro é só o começo de outra história. Num país que ensina a disfarçar a dor, ser palhaço foi meu ato político: mostrei a ferida e deixei que rissem dela", continua.

Questionado se ainda enfrenta dificuldades por ter decidido seguir o sonho de ser ator, o pernambucano é direto: "Ainda estou aqui, batalhando todo santo dia, correndo contra o tempo. Estudando o mundo. Aprendendo o valor de cada momento. Acreditando num mundo onde seja possível viver. Aprendendo a existir".

Geyson Luiz por Geyson Luiz: "É o mesmo ser, canceriano com ascendente em Escorpião, desde que me conheço por gente. O ser artista veio da necessidade de comunicar aquilo que não conseguia dizer em palavras. Então, é assim desde que me entendo como pessoa: chorando sorrindo, sorrindo chorando. Pela arte, quanto mais como, mais fome tenho. Como ator, acredito na memória como algo puro: o que há de mais valioso dentro de mim. E nos sonhos, meu grito de guerra. Um dos meus apelidos de infância era 'Pupilo' —porque vivia no pé dos meus professores e mestres".

O ator pernambucano Geyson Luiz -
O ator pernambucano Geyson Luiz -
Foto: Divulgação/Diogenes Mendonça / Caras Brasil

TRAJETÓRIA 

O ator pernambucano ganhou projeção nacional ao protagonizar as duas temporadas da série Lama dos dias (2019 e 2024), que resgata o início do movimento manguebeat e remonta a cena cultural de Recife dos anos 1990. A produção está disponível no catálogo do Globoplay. Ele também atuou em Cangaço Novo, na Prime Video; e no filme pernambucano Salomé, vencedor de diversos prêmios no Festival de Cinema de Brasília, em 2024. Geyson também está na última fase da série Sintonia, lançada em fevereiro, na Netflix.

"Em um contexto global de crescente violência e avanço do autoritarismo, a obra tem o dever não apenas de entreter, mas também de provocar reflexão. Sintonia convida o público a pensar coletivamente, usando a linguagem audiovisual como ferramenta — especialmente em tempos como os nossos, marcados pela carência de leitura, pela dificuldade de interpretação e pela incapacidade de ouvir antes de falar", diz.

"Vivemos numa era em que muitos se recusam a compreender pensamentos contrários aos seus. É mais "cômodo" evitar a verdade e pagar caro pela mentira, criando um mundo irreal para se refugiar, do que permitir que a verdade perturbe nossas certezas. Nosso comportamento é movido por ideias, e a ideia central é esta: a verdade deve ser preservada, pois dela emana o valor único da memória coletiva. Quando o o à história e à cultura não é democratizado, a comunidade recria sua própria identidade. A mensagem é clara: sem verdade, não há raízes", reflete.

O artista, que atualmente está estudando licenciatura de teatro na UFPB, ainda tem vários espetáculos e curtas-metragens em seu currículo e também poderá ser visto este ano em festivais pelo País, estrelando o filme paraibano O Braço e no elenco dos longas Aurora, Ao sabor das cinzas e Coração de lona.

Geyson Luiz e Isis Valverde - Foto: Reprodução/Instagram
O ator pernambucano Geyson Luiz - Foto: Divulgação/Diogenes Mendonça
O ator pernambucano Geyson Luiz - Foto: Divulgação/Diogenes Mendonça
Bastidores da série Maria e O Cangaço - Foto: Reprodução/Instagram

VEJA PUBLICAÇÃO DE GEYSON LUIZ NOS BASTIDORES DE MARIA E O CANGAÇO:

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