Uma brilhante dançarina, que largou os palcos mineiros para trabalhar na TV como jornalista. Foram quase 20 anos na TV Globo, dando a cara para importantes coberturas jornalísticas. ou também por SBT, Record e Band. Uma trajetória profissional longa, robusta e de muita notoriedade, que contribuiu para que Ana Paula Padrão se tornasse inspiração em um mundo ainda muito machista, principalmente no ambiente de trabalho. 2y642q
"Mulheres que não são modestas e falam abertamente sobre suas conquistas incomodam", apontou a jornalista em entrevista exclusiva ao Terra. Segundo ela, a expectativa social em torno do homem está associada à ambição, enquanto a da mulher está relacionada à modéstia.
Filha de um homem conservador, cuja esposa parou de trabalhar fora para se dedicar à criação dos filhos, Ana Paula conta que tinha tudo para ter tido uma criação tradicional, em que mulheres são ensinadas a dedicar-se ao cuidado do lar e dos filhos. Apesar disso, a educação que recebeu a estimulou a querer alçar voos cada vez mais altos.
Ela relata nunca ter ouvido do pai frases como "vai casar quando?", "esse homem não é um bom partido", ou ainda "para que ser tão ambiciosa?". Seria perfeitamente natural que essas frases viessem daquele homem, mas não vieram. Ao contrário, ele sempre a orientou a fazer faculdade e escolher uma profissão que lhe garantisse um bom futuro.
"Acho que demorei muito a reconhecer as barreiras de gênero, porque elas nunca me foram impostas quando eu era criança --e isso me beneficiou muito ao longo da vida. Entendi muito rápido que, se eu não fosse a primeira defensora do meu valor, seria muito difícil que outra pessoa viesse em meu socorro.”
"Não sou uma pessoa modesta. Sou uma pessoa humilde. Não sou arrogante, mas tenho muita consciência da minha capacidade e do meu valor. Ninguém consegue me dizer que não vou conseguir algo que almejo" --Ana Paula Padrão
Longe da TV 6m6g1b
Com 40 anos de carreira na televisão, a jornalista deixou de aparecer nas telas no final de 2024, quando encerrou seu contrato com a Band. Após ter atuado como repórter, correspondente e apresentadora nas principais emissoras do País, como TV Globo, SBT e Record, ela iniciou sua trajetória no entretenimento em 2014, quando estreou como apresentadora do MasterChef Brasil, na emissora do Morumbi, em São Paulo.
Desde que deixou a TV, Ana Paula vem se dedicando a outros projetos. Ela tornou-se sócia da Conquer Unna, empresa com o objetivo de empoderar mulheres no mercado de trabalho a partir de um ambiente de aprendizado mútuo. A jornalista conta que a rotina é diferente agora, mas não menos cansativa.
"Antes eu ficava dentro de um estúdio das 8h às 18h. Agora, tenho muito mais controle sobre minha própria rotina. Por outro lado, abrir uma empresa não é fácil, eu já ei por isso antes. Exige muita dedicação", relata.
"Tem pouco tempo que estou aprendendo a descansar. Antigamente, eu tinha que pifar. Hoje, não. Percebo os sinais de cansaço e me antecipo. Nas últimas quatro semanas, sabia que enfrentaria um período de muito trabalho, então ei todos os finais de semana na praia, em Ilhabela (SP)."
Ela também é responsável pelo projeto Tempo de Mulher, que começou há 15 anos como uma plataforma de conteúdo voltada para mulheres e, hoje, promove eventos para criar uma rede de apoio feminina.
De 15 anos para cá, o mundo mudou um pouco. Nos primórdios do projeto, ainda havia uma parcela ínfima de mulheres em cargos de liderança. Mas, nos últimos cinco anos, o percentual de mulheres CEOs nas 250 maiores empresas do Brasil dobrou. Em 2019, essa representatividade era de 3% e ou para 6% em 2024, segundo pesquisa da Bain & Company.
"Quanto mais mulheres alcançam postos de poder, maior é a reação de quem odeia ver isso, de quem acha que não fomos talhadas para ocupar esses lugares", pontua Ana Paula, que destaca a importância de as mulheres não se permitirem acomodar-se.
"A mulher não é frágil, mas está inserida em um momento de muita fragilidade. Hoje em dia, além de trabalhar fora, ela é responsável também pela economia do cuidado --o trabalho invisibilizado que envolve desde tarefas para a manutenção do lar até o zelo com crianças, idosos e pessoas doentes."
Desapego ao ado 5ue1d
Ana Paula afirma que não é uma pessoa saudosista, ou seja, não tem apego ao ado. No futuro, em que as mulheres estiverem em pé de igualdade com os homens, ela espera, inclusive, que o Tempo de Mulher não seja mais necessário e que ela possa aposentar o projeto, com a sensação de dever cumprido.
No momento, Ana Paula está focada em aprimorar os serviços da Conquer Unna, que já conta com mais de mil alunas e, em breve, deve começar a oferecer cursos também para empresas. Ela revela ainda que não sente falta de trabalhar na televisão e que aparecer nas telas não é o que a preenche profissionalmente.
"O meu barato não tem a ver com o ego da TV. Todo mundo tem um ego, e o meu está em outro lugar. Já fiquei alguns períodos longe da TV, quando deixei o jornalismo, antes de entrar no MasterChef. Não me fez falta", diz.
"Estou muito ocupada com a minha empresa e isso me preenche. Minha necessidade intelectual está sendo suprida. Então estou tranquila. Se em algum momento eu tiver vontade de entrar em algum projeto, vou atrás disso, mas por enquanto tenho outras prioridades", acrescenta.
